YAN KYRON ESTRÉIA PRIMEIRA EDIÇÃO DA REVISTA LENTE PERIFÉRICA

A Revista Lente Periférica abre suas portas com um nome que já carrega brilho e sensibilidade: Yan Kyron, artista maquiador nascido e criado em João Pessoa, Paraíba.

Yan iniciou sua jornada ainda na adolescência, quando descobriu na maquiagem não apenas uma prática estética, mas uma verdadeira linguagem artística. Ao longo do tempo, transformou esse gesto em expressão pessoal, marcada por sensibilidade, delicadeza e intensidade.

Inspirado por referências pop e alternativas da música internacional, Yan constrói em cada trabalho um universo que mistura ousadia e poesia. Sua arte carrega não só cores e texturas, mas também histórias de resistência e de sonho: o desejo de viver dignamente de sua criação em meio a um mundo capitalista que tantas vezes tenta sufocar nossas aspirações.

Com olhar doce e presença admirável, Yan deixa claro que seu sonho de reconhecimento não é utopia — é uma profecia em curso. A cada pincelada, aproxima-se de sua própria ascensão.

Acompanhe, com fotos, a seguir, trechos da entrevista que marca sua estreia como capa da primeira edição.

Eu antes não me aceitava em questão de maquiagem.

A maquiagem pra mim começou com um processo. Eu abominava maquiagem. Não gostava mesmo. Evitava ao máximo. Eu tinha um preconceito comigo mesmo. Mas um dia, por exemplo, fui passando uma coisinha no rosto, depois fui passando uma base, uma sombra colorida e daí fluiu. Fui criando um carinho pela maquiagem. Quando eu menos esperei, já tinha me pintando inteira.

Hoje em dia, eu amo fazer maquiagem que mexa com essa questão de pintura, de processo criativo, uso de chifres, uso de sangue, trazer o choro, o drama toda essa questão faz parte da minha estética e eu tento o máximo sempre trazer uma nova evolução. Quando eu comecei já foi bem maravilhoso.

Eu sempre procuro coisas novas, sempre procuro novas inspirações e nelas botar o meu traço como artista único.

Minhas maquiagens transmitem o meu humor.

Se estou numa crise existencial, vivendo um grande drama na minha vida, se estou neurótico ou melancólico, eu transmito isso na minha arte. Deixo claro como eu me sinto. Nesses momentos que busco materiais mais fortes, cores mais pesadas que demonstrem abertamente que eu estou naquela situação, que eu não estou bem.

Essa é a minha questão de estética sabe, eu gosto que as pessoas sintam isso comigo. Por exemplo, nessa maquiagem que eu to me sentindo bem. Olha como tá uma coisa mais clean, mais harmônica, mais leve.

Eu gosto muito de usar esses tons de azul, branco e rosa. Quando estou nessa paleta é quando eu estou me sentindo maravilhosamente bem comigo mesmo. Já quando eu uso mais vermelho, preto, roxo e vinho, é uma vive tipo, estou em uma nova era, em um novo momento.

Sabe quando a gente tá em casa, tem um estralo e diz, hoje eu vou mudar, hoje vou ser uma nova pessoa. Assim que nascem várias versões de mim. Cada maquiagem que eu faço podem ter certeza que aqui em casa eu tô naquele personagem, sabe, naquele momento não é mais o Yan, é aquele personagem que eu tô querendo naquele momento tô entendendo.

Porque a gente que é artista e é CLT...

tem que escolher, ou a gente trabalha, ou a gente faz a nossa arte. Então assim, as contas elas chegam e a gente tem que escolher infelizmente o mundo do CLT.

A nossa realidade não é a mesma realidade de uma pessoa que frequenta faculdade particular, com financiamento familiar. Quem tem esse apoio é maravilhoso. Só que, a partir do momento que a gente não tem esse apoio, a gente tem que tá sempre se dividindo vinte e quatro horas.

Muitas vezes, eu chego do trabalho e ainda vou fazer conteúdo. Acabo indo dormir 2h, 3h, até 4h da manhã e ainda vou trabalhar no outro dia de manhã cedo. Seria maravilhoso se pudesse dedicar meu tempo apenas à arte. Infelizmente, a minha vida ela acaba ficando um pouco corrida .

A gente vai levando até onde der, não tem onde der não né... Até onde a gente quer chegar

Às vezes a inveja vem de quem menos você espera.

Antigamente, eu procurava muita aceitação de outros artistas locais. Tipo... ah fulano é maquiador, ciclano faz arte, logo podemos ser amigos. Mas, na realidade, não é assim que eu percebo. Muitos dos que estão na cena de artistas de João pessoas, se firmam com amizades. Então assim, tem um grupinho de artistas que ao formar o seu grupo eles compartilham as coisas deles mesmos, comentam as coisas deles mesmos, porém esquecem outros artistas.

Então assim, por exemplo, eu como comecei a crescer agora, não me sinto aceito. Nesse mundo artístico de João Pessoa, eu sempre comento, compartilho e curto as postagens dos outros e eu achava que fazendo isso, as pessoas iriam pensar, nossa ele é artista também, ele é artista igual a mim, nós vamos ter uma amizade bacana, eu vou compartilhar o trabalho dele também. Mas na realidade não é assim sabe.

Tem várias cenas, não só no mundo artístico, que eu, tipo assim, não entendo e não procuro entender mais, entendeu?

Eu sinto que a maioria dos artistas de João Pessoa, tem uma carência, um medo, que vem de achar que os outros vão roubar os seus holofotes, mas eu acho que a luz brilha pra todo mundo e se for pra você hitar, ou se for pra você ser mais famoso que eu, que seja.

Vamo fazer nossa arte, vamo fazer o que a gente gosta e se a gente for reconhecido beleza, ótimo, maravilhoso, mas se a gente não for reconhecido tudo bem também a gente não tá fazendo o que a gente gosta? Então...

“Eu acredito que meus sonhos vão se realizar...

Eu tenho sonhos pequenos, mas também tenho sonhos grandes, como por exemplo, eu tenho o sonho de cobrir um desfile com apenas maquiagens minhas. Já aconteceu? Já aconteceu. Mas não nessa pegada mais artística. Eu amo desfiles de moda.

pra todos os artistas...

É o seguinte, não desista. Tente muito. Incessantemente. Tente, por mais que você não tenha tempo, por mais que você não tenha vida. Se for o que você gosta, tente. Eu digo isso por experiência própria. Eu já trabalhei em um emprego que era quase quatorze horas. Foi muito difícil pra mim. Muitas vezes a gente se cansa. Somos igual uma bateria, a gente também descarrega, a gente também fica sobrecarregado. Muitas vezes ficamos desanimados.Mas você precisa tentar até o seu último momento. E se fulano rir? Se cicrano rir? A gente não se importa.

Continue fazendo que você gosta e se é o que você ama fazer não desista, não abra a mão dos seus sonhos, porque a vida só uma e se você não tentar, vai acabar um dia sumindo mas não deixou nada pra trás. Por mais que o seu trabalho seja pequeno, seja admirado por uma, duas, três pessoas apenas, mas é o seu trabalho, é a sua arte, é a sua essência. Não deixe isso morrer. É a sua vida!

Maquiagem é a minha vida eu amo trabalhar com maquiagem e eu não sei o que eu faria hoje em dia se eu não tivesse ela como terapia.

Se eu tivesse desistido dos meus sonhos, eu não iria estar onde eu estou hoje em dia, entendeu?

Eu sou muito grato a todas todas as experiências ruins que eu passei, pois me deixaram mais fortes.

Galeria

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